Homilia do Mons. José Maria
– IX Domingo do Tempo Comum – Ano C
Saber Pedir
O
Evangelho (Lc 7, 1-10) apresenta-nos a figura de um centurião que é modelo de
muitas virtudes: fé, humildade, confiança no Senhor.
Este
centurião é também para nós um exemplo de homem que sabe pedir. A fé deste
homem arrancou a admiração de Jesus, porque se diz que “Jesus ficou admirado”.
É uma fé
humilde. A humildade deste homem é verdadeiramente surpreendente e transparece
em tantos particulares (Não só nas famosas palavras: Eu não sou digno…, antes
de tudo da relação que há entre ele e seu servo: aquele servo não é uma coisa,
mas uma pessoa, um amigo(“a quem prezava”); por ele, se dispõe pessoalmente, e
esta é humildade, da melhor qualidade! Indica que, também na vida, ele não é um
homem que olha os outros do alto de seu cargo, não faz pesar sua superioridade,
mas sabe colocar-se ao lado dos mais humildes. Em segundo lugar, ele não vai
pessoalmente a Jesus, porque, como pagão, se considera indigno de comparecer à
sua frente.
É a
própria fé deste homem que é humilde; tem uma fé capaz de deslocar
montanhas, e não o percebe, aliás, parece até se envergonhar, porque tenta
justificá-la. Como se dissesse: nenhum mérito há de minha parte em crer que tu
podes curar meu servo; vejo como me obedecem meus súditos!
Mas
exatamente aqui está o milagre de sua fé que arranca a admiração de Jesus:
“Também eu estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às
minhas ordens. Se ordeno a um: Vai, ele vai; e a outro: Vem! ele vem; e ao meu
empregado: Faze isto!, ele o faz” (Lc 7, 8). A lógica é clara: ele responde
pelos próprios atos diante de seu superior, este por sua vez ao governador
local, que por fim responde a César, em Roma. A autoridade que se espera seja
exercida por Jesus se encontra nas mesmas condições. A argumentação é notável!
Este
homem entendeu – certamente pelo dom do Espírito Santo – que os milagres de
Jesus brotam de sua obediência ao Pai e isto, em Israel, não o tinha entendido
ninguém, nem mesmo os discípulos mais íntimos! Entende-se por que Jesus ficou
comovido.
O
ensinamento mais importante desse texto evangélico é a fé do centurião; a
qualidade daquela fé! É uma fé humilde, sim, mas corajosa; dir-se-ia até
mal-educada, indiscreta, segura demais de si, se isto não resultasse que a
Jesus agradava exatamente assim: “Em verdade, vos digo: se alguém disser a esta
montanha: arranca-te e joga-te no mar, sem duvidar no coração, mas acreditando
que vai acontecer, então acontecerá” (Mc 11,23). O dito de Jesus quer dizer que
a fé faz superar todos os obstáculos; que entre o que Deus pede ao homem com a
fé e aquilo que ele está disposto a lhe dar há a mesma desproporção que existe
entre um grãozinho de mostarda e um monte que se desloca.
O
centurião colocou seu servo nas mãos de Jesus; sabia que não podia fazer outra
coisa a não ser o bem: e voltando para a casa do centurião os que haviam sido
enviados, encontraram o servo curado.
Eis o
ensinamento do Evangelho de hoje: crer de maneira simples e corajosa, ousar
muito em matéria de fé, pedir “sem duvidar.”
Nossa fé
é, muitas vezes, extremamente intelectual, muito cerebral; consiste em crer que
aquilo que Deus falou seja verdadeiro(crer na veracidade de Deus), mas não em
crer que o que prometeu acontecerá (crer no poder de Deus). Enfim, falta-nos a
fé nos milagres.
Revistamo-nos
da humildade do centurião com aquelas palavras que ele foi o primeiro a dizer e
que atravessaram os séculos até nós: Senhor, não sou digno; mas abracemos
também sua fé: Dize somente uma palavra e eu ficarei curado.
Mons. José Maria Pereira
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