Homilia do D. Henrique
Soares da Costa – Ascensão do Senhor – Ano C
At 1,1-11
Sl 46
Ef 1,17-23
Lc 24,46-53
Sl 46
Ef 1,17-23
Lc 24,46-53
Celebramos
hoje a Ascensão do Senhor: Cristo não somente foi ressuscitado pelo Pai, que
derramou sobre ele o Espírito
Santo,
Senhor que dá a vida, mas também, neste mesmo Espírito, recebeu do Pai, como
verdadeiro homem, todo o poder no céu e na terra. É este o sentido da festa de
hoje. Mas, vejamo-lo por partes.
Cristo
Jesus, ao ressuscitar, saiu da morte e entrou na glória do Pai. A ressurreição
e a ascensão são dois momentos, dois aspectos de um único acontecimento: a
glorificação do Cristo feito homem e entregue à morte. Jesus não ressuscita,
passa quarenta dias aqui na terra e, somente depois, vai para o Pai. Não. Ele
já ressuscita no Pai, sua páscoa é passar deste mundo, atravessando o vale da
morte, para entrar no Pai, saindo da morte. O que os Atos dos Apóstolos narram
na primeira leitura de hoje, não é a ida de Jesus ao Pai, mas a despedida
solene de Jesus, o fim daquele período de encontros do Ressuscitado,
glorificado com o Pai, com os seus logo após a ressurreição.
Então,
qual a diferença entre a ressurreição e a ascensão? Na ressurreição,
contemplamos o Cristo totalmente glorificado pelo Pai na força do Espírito.
Toda a sua natureza humana, corpo e alma, foi divinizada, impregnada pela vida
divina, que é o Espírito Santo. Jesus, agora, é um homem totalmente novo,
totalmente “espirituado”, totalmente glorificado, divinizado na sua humanidade.
É este o mistério da ressurreição. Mas, há mais: ao ser glorificado, ele, que é
uma pessoa divina, é entronizado com todo o poder no céu e na terra: ele,
ressuscitado, é constituído Senhor do universo, Senhor da história, Senhor da
nossa vida. É isto que a Escritura e a Tradição querem dizer ao afirmar que ele
está “sentado à direita de Deus Pai”: ele tem o mesmo poder do Pai, ele recebeu
o senhorio sobre tudo. Mas, não já o tinha antes? Não! Tinha como Verbo eterno
e divino; mas, agora, é o Verbo como Filho feito homem que recebe tal poder! É
este o significado da ascensão. Um de nossa raça está dentro da Trindade, um de
nossa raça é Senhor do céu e da terra, um de nossa raça é Senhor dos anjos, um
de nossa raça está no topo de todas as coisas. É o que dirá a oração após a
comunhão da Missa de hoje: “Deus eterno e todo-poderoso… fazei que nossos
corações se voltem para o alto, onde está junto de vós a nossa humanidade”.
São Lucas
exprime esta realidade, nos Atos dos Apóstolos, afirmando que Jesus “foi
elevado ao céu” e “uma nuvem o encobriu, de forma que seus
olhos não podiam mais vê-lo”. Não pensemos aqui numa subida espacial, como
se o Senhor Jesus fosse fazer uma viagem pelo espaço sideral, de um lugar para
o outro. O “subir”, aqui, tem um sentido qualitativo: subiu para uma vida
superior, para uma plenitude que não é deste mundo. Ele, agora, está totalmente
imerso no mundo de Deus. É este o significado da nuvem que o encobre. Ela é
símbolo do Espírito que, divinizando-o completamente, coloca-o diretamente no
âmbito de Deus Pai. Por isso já não podemos mais vê-lo com os olhos da carne.
Mas, a
partida de Jesus não é um afastamento de nós. Ele estará, para sempre, interior
e realmente, presente no coração da Igreja e de cada fiel através da potência
do seu Espírito Santo. É o mistério que celebraremos no domingo próximo. Na
glória, sentado à direita do Pai, ele agirá sempre como “Cabeça da
Igreja, que é seu corpo”, vivificando-a, sustentando-a, e conduzindo-a sempre
mais a ele, até que venha “do mesmo modo como o vistes partir”.
Para nós,
a solenidade hodierna tem dois aspectos muito importantes. O primeiro, a
certeza que, por mais incerta e sem sentido que muitas vezes a realidade e a
nossa vida apareçam, há um Senhor no céu, há o Cristo, que tudo tem, amorosa e
poderosamente, em suas mãos. Recordemos o que diz a segunda leitura: o
Pai “manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e
o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda a autoridade, poder,
potência, soberania ou qualquer título que se possa mencionar não somente neste
mundo, mas ainda no mundo futuro”. Não há o que temer, cristão: teu Senhor
é aquele que tudo dirige, tudo conduz e tudo plenifica. Tu e o mundo em que
vives, tu e a história em que caminhas, estão nas mãos daquele que se senta no
trono, à direita do Pai. Finalmente, ao olhar para o céu, contemplamos,
glorioso, aquele que é nossa Cabeça, aquele de cujo Corpo somos membros. Pois
bem, a sua glória é antecipação e garantia da nossa, como dizia a oração
inicial da Missa: “membros do seu Corpo, somos chamados a participar da
sua glória”.
Caríssimos,
não tenhamos medo! Ainda que com os olhos da carne não possamos contemplar
aquele que é o nosso Senhor e reina sobre tudo, sustentados pelo Espírito Santo
e com os olhos da fé, temos a certeza que este mundo e nossa vida têm um
sentido e são conduzidos pelo Crucificado que foi glorificado à direita do Pai.
Renovemos o nosso ânimo e recordemos que o Senhor nos convida a voltar cheios
de alegria, como os apóstolos, e sermos testemunhas suas em toda a terra.
Sejamos fiéis ao mandato do Senhor, fortalecidos pela esperança que a festa de
hoje suscita em nós. É assim que glorificaremos o Cristo, bendito para sempre.
Amém.
D. Henrique Soares da Costa
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